segunda-feira, 3 de maio de 2010

Somente A Solidão



O vento frio arrastava folhas e papéis pela rua enquanto ele esperava a Van. Na noite fria e melancólica, seus pensamentos e sentimentos passavam como um turbilhão de emoções incontroláveis prestes a estourar seu peito numa tentativa de aliviar sua dor.
Não sabia por que estava assim, mas sabia que isso machucava e a emoção era tamanha que se esforçava para não chorar. Essa melancolia surgiu de repente, junto com o cair da noite. Não queria admitir, tampouco pretendia se abrir com alguém, mas sentia-se só, vazio.
Indiferente às pessoas e veículos que passavam por ele, prosseguia em sua espera, solitário, pensativo, triste. Olhou para o céu esperando encontrar uma resposta, mas este se apresentou escuro, sem uma estrela sequer para iluminar seus pensamentos. Até mesmo a lua o abandonava na noite. Lembranças do passado surgiram em sua mente, mas, quanto mais belas e alegres eram as imagens dessas lembranças, mais a dor oprimia seu peito.
Os pensamentos foram interrompidos pela chegada da Van. Entrou sem o ânimo habitual e nem falou direito com os outros. Durante o percurso manteve-se calado, alheio ao que ocorria ao seu redor. Em sua melancolia, até mesmo a noite parecia embaçada, parada, arrastando-se eternamente num dia que não teria fim. Vazia, a faculdade não ajudava a melhorar seu sofrimento.
Tudo estava sem graça, sem cor e, embora achasse dias assim interessantes, não gostava nem um pouco do sentimento que o tomava no momento. Algo muito mais denso, mais profundo, que lhe amedrontava, estava acontecendo sem que ele pudesse evitar. Essa impossibilidade de manter o controle da situação, de não poder prever o que estava acontecendo e o que viria em seguida lhe tirava o sono. Era esse detalhe que o apavorava.
Sob as luzes da sala e o murmúrio constante de alunos e professores, ele criou um pouco de ânimo enquanto as horas se arrastavam até o final das aulas. Ainda dentro da faculdade, olhou mais uma vez procurando nos céus uma resposta para seu sofrimento. A lua cheia fitava-o, banhando sua face com uma luz pálida e mórbida. Era linda, mas, ao mesmo tempo, sugava suas forças e o deixava mais apático.
Na saída, andou lentamente em direção à escadaria, onde aguardou pacientemente a chegada de sua Van sem ao menos reparar nas horas. Não viu mais o tempo passar, nem mesmo soube dizer como chegou em casa, mas sabe que, ao menos naquele dia, o trajeto foi diferente, levando-o por ruas que não estava mais habituado a passar. Em casa, já sonolento, tentou ler um pouco até que o sono viesse de fato e o levasse para o mundo onírico, o mundo que o atraia, o mundo que ele amava e odiava.
E o dia chegou ao fim.
Julho de 2004                      


Por Rafael Franzin




Imagem: http://poucaseboasari.blogspot.com/2009/04/solidao.html