terça-feira, 25 de outubro de 2011

O destino de cada um está atrelado às decisões tomadas pelo próximo e por nós mesmos


No domingo fui à casa de minha noiva buscá-la para irmos a um aniversário. Dirigia devagar. Sempre procuro ter cuidado e agora que ela está grávida, e a poucos dias de ter nossa filha, procuro ser mais zeloso ainda.
Minha cidade é pequena – nem sequer possui semáforos – e por isso mesmo depende-se mais do respeito às leis e ao próximo do que apenas à sinalização, mas infelizmente não é o que acontece.
Peguei a avenida e continuei dirigindo tranqüilo até chegar a um ponto com um senhor em cima da faixa de pedestre, tentando atravessar. Obviamente parei o carro, pois não há tráfego nesta cidade que justifique uma falta de respeito e, aliás, era direito do cidadão ter a preferência e minha obrigação como motorista respeitá-lo.
De início ele estranhou, pois não é hábito deste povo de mente provinciana e comportamento semibárbaro o respeito ao próximo, mas iniciou a travessia. Lá no fundo, pelo retrovisor, vi um veículo em alta velocidade se aproximando. O senhor havia atravessado quase toda a frente do meu carro quando o outro motorista passou pela minha direita ignorando a faixa e o pedestre, passando a uns trinta centímetros dele.
Ainda aguardei o senhor chegar à calçada e recebi um aceno de mão, agradecendo a gentileza, enquanto o outro motorista já fazia a curva no final da avenida.
Fiquei muito irritado com a atitude do motorista. Sinceramente, gostaria de vê-lo sendo punido, mas isso foge à minha vontade. No entanto, refletindo sobre isso e voltando um pouco a história ao ponto em que parei aguardando o senhor atravessar, caso ele não tivesse vacilado os 2 ou 3 segundos  para atravessar a rua, teria sido atropelado.
Meu desejo teria se realizado de uma forma distorcida, pois o motorista seria punido, mas a um custo muito alto e então, hoje, quando escrevia estas linhas, lembrei da seguinte passagem da conversa entre Gandalf e Frodo, em O Senhor dos Anéis.

(...)
“...É uma pena que Bilbo não tenha apunhalado aquela criatura vil, quando teve a chance!
— Pena? Foi justamente Pena que ele teve. Pena e Misericórdia: não atacar sem necessidade
(...)
...Merece a morte.
— Merece! Ouso dizer que sim. Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem viver. Você pode dar-lhes vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém à morte. Pois mesmo os muito sábios não conseguem ver os dois lados."
(...)

J.R.R. Tolkien
O Senhor dos Anéis: A sociedade do Anel
Livro 1, capítulo 2