terça-feira, 20 de abril de 2010

A Tempestade (parte 2)

Aquela tarde, há 15 anos, estava quente e ensolarada. Os jovens se distraiam, conversando no bar do clube ou aproveitando a piscina. Eu estava entre eles, mas em certo momento passei a não me sentir bem, apesar de toda euforia que me rodeava. Algo me oprimia e não parava de pensar em meus pais, que viajaram até uma das fazendas de meu avô. Aos poucos esta agonia foi se transformando em medo e já não queria estar lá.
Meus amigos tentaram me tranqüilizar dizendo que era apenas preocupação por meus pais estarem viajando, e por um tempo tentei esquecer estes sentimentos. Uma brisa suave passou com um cheiro de chuva, apesar do céu limpo. Estávamos nos preparando para almoçar.
De repente, nuvens negras surgiram escurecendo a bela tarde indicando uma terrível tormenta. Dizem que este foi o pior temporal já visto naquelas redondezas. Pelo que posso lembrar, foi uma tempestade muito forte, mas não tão assustadora como dizem por aí, pelo menos não de onde estávamos. Aconteceram muitas coisas no decorrer daquela tarde até o raiar do sol, no dia seguinte, quando a tempestade cessou. Quando a polícia chegou encontrou apenas dois sobreviventes, eu e mais uma garota, mas não pudemos dizer nada, estávamos espantados demais. Pelo menos eu estava, pois o estado dela era lamentável. Estava em choque, jamais soubemos o que ela viu. E a polícia nunca descobriu o que aconteceu.
Quando chegaram, as nuvens bloquearam a luz e a tempestade desabou furiosa, castigando tanto a terra que ficou difícil enxergar muito longe ou procurar abrigo melhor. A força do vento era tamanha que não conseguíamos ver nada além de vultos ou ouvir gritos abafados e distantes. As gotas pesadas batiam em nossa pele desprotegida.
Naquele escuro, pudemos apenas andar com dificuldade, tateando até o melhor abrigo que pudemos encontrar. Cerca de dez minutos depois ouvimos um estrondo maior do que os trovões que até então ribombavam acima de nós. Pouco depois, entre um trovão e outro, imaginei ouvir ganidos e latidos, mas por um curto período. Era impossível entender qualquer coisa naquela algaravia rodeada pelo estrondear de trovões.
Em algum momento após quase todos estarem protegidos e não muito distante dos sons que julguei serem ganidos ou latidos, gritos de pânico foram ouvidos e depois do primeiro, vieram muitos outros. Àquela hora, tudo ficou confuso. Ninguém entendia o ocorrido e não sabia o que fazer, o pavor tomou conta de cada um presente naquele clube.
Começou uma correria, mas não tive tempo de perceber mais nada. Tudo ficou escuro. O dia seguinte surgiu claro e com o céu limpo, mas em toda a dependência do clube havia corpos mutilados e o chão estava tingido com sangue. Como disse, apenas uma moça e eu fomos encontrados vivos. Ela estava em estado de choque e muito ferida, foi levada às pressas para o hospital. Eu, que levei uma pancada violenta na cabeça, já estava bem, apesar de aturdido, e passei o resto do dia na delegacia relatando o acontecido.
Os policiais queriam respostas, queriam culpados, queriam mostrar serviço. Maldita cidade vulgar! Não descansaram em sua arrogância enquanto exigiam respostas que eu não tinha. A noite caiu e avançou. Os investigadores, embora insatisfeitos e a contragosto, me liberaram. Não sem antes me aborrecerem com acusações e ameaças. Assim que cheguei em casa tratei de ir para a cama, pois meu corpo não agüentava mais de tanta dor e cansaço. Tive um sono agitado e cheio de sonhos.

Por Rafael Franzin


(continua...)

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