Dos tempos da faculdade 2

Nesta aula a tarefa foi simples. Teríamos apenas que alterar o texto original, inserindo nele outro tema. Eis que a "Poesia Matemática", de Millôr Fernandes, se transformou em "Poesia Linguística.

Poesia Linguística

As folhas tantas do livro gramatical
um Sujeito apaixonou-se um dia doidamente
por uma Transitiva
Olhou-a com seu olhar conativo e viu-a do título ao ponto final.
uma figura singular
olhos oblíquos
corpo sublinhado
seios enfáticos
Fez de sua vida subordinada a dela até que se encontraram no fim da frase
-Quem és tu?
indagou ele com ânsia vocativa
-Sou a Conjugação verbal, mas pode me chamar de Mesóclise
E de falarem descobriram que eram
o que em Poesia corresponde a almas-irmãs:
rimadas entre si.
E assim se amaram
ao numeral do parágrafo
numa coerente narração, traçando ao sabor do momento
e da paixão
objetivas, subjetivas, adjetivos e apositivas
nos jardins da oração.
Escandalizaram os ortodoxos da língua culta
e os exegetas do Universo linguístico
Romperam regras gramaticas e lexicais
e enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um advérbio de lugar
Convidaram para padrinhos o Artigo e a Interjeição
E fizeram esquemas
dissertações
e redações para o futuro, sonhando com uma felicidade
denotativa e conotativa
E se casaram e tiveram uma sílaba e três hiatos
muito engraçadinhos
E foram felizes até aquele dia em que tudo vira afinal monotonia.
Foi então que surgiu
O divisor hífen de sílabas, frequentador de frases
estrangeiras e viciosas.
Ofereceu-lhe a ela
uma língua nativa
e reduziu-a a um dialeto regional
Ele,
implicitamente,
percebeu que, com ela, não formava um período, um significado:
Era o tritongo
tanto chamado amoroso
Desse problema ele era uma prosódia,
a mais ordinária
Mas foi então que Platão descobriu a reflexão gramatical
e tudo o que era espúrio passou a ser
moralidade,
como aliás em qualquer sociedade

Por Rafael Franzin

A data eu não me recordo, mas foi na mesma época em que redigi outros trabalhos entitulado "Dos tempos da faculdade"