segunda-feira, 5 de abril de 2010

Perseguido!

Parecia que não estava só. Era tarde, quase uma hora da manhã. Nuvens cobriam a lua e um vento gélido soprava constantemente, trazendo consigo um nevoeiro tênue. Era inverno. Respirando fundo, lembrou-se da caminhada que tinha pela frente. Não se sentia seguro ali, não gostava do bairro em que estava. Possuía uma péssima fama e, embora este não fosse o principal motivo, queria sair de lá.
Iniciou a descida pela avenida na noite silenciosa. Andou cerca de 20 metros e ouviu passos. Olhou para traz, não viu ninguém. Continuou em frente descendo a avenida e os passos continuaram ecoando naquele caminho deserto. A neblina rodopiava com o vento em uma dança macabra na noite fria.
Chegando ao fim da avenida olhou curioso para trás e de relance viu a silhueta indistinta de alguém. Não deu importância. Continuou andando, mas ao tomar o caminho de outra rua olhou curioso novamente para trás.
Vazio.
Imaginou ouvir passos. Apesar da iluminação, a noite dominava calada e gélida. Seguiu atento em seu novo caminho. Ouvidos e olhos aguçados. Naquele frio de gelar os ossos, sentia apenas o coração pulsando. Passos.
Apreensão.
Virou-se para o nada. Rua deserta, fria, escura. E a dança macabra da neblina sob o luar continuava. Seguiu até o fim do bairro, e lá diminuiu os passos para decidir qual caminho tomar. O primeiro o levaria até o centro da cidade, por um caminho um pouco mais longo, mas as construções abandonadas e as duas quadras escuras o intimidaram. E os passos?
Silêncio.
Olhou para frente, o segundo caminho era menos convidativo que o primeiro, atravessando um pasto isolado, mal iluminado e deserto. Mas era mais curto, e ele conseguia enxergar a rua bem iluminada no final deste caminho. Seguiu em frente. Olhava para os lados do caminho, via as sombras dançando ao som do vento nas copas das árvores. Olhos de várias corujas o seguiam. A lâmpada de um poste se apagou.
Virou-se. Uma silhueta indistinta cruzava a rua rumando para o centro da cidade. Aliviado, seguiu seu caminho até chegar à rua da antiga estação de trem. Antiga e abandonada, parecia assombrada sob o luar da noite lúgubre. Nos arredores escuros da estação, seguindo o caminho dos velhos trilhos entre a névoa e o farfalhar de folhas, continuou sua caminhada solitária.
A queda de algo pesado próximo aos vagões o assustou. De cantos escuros, sombras saltaram e passaram de um lado a outro em silêncio.
Tensão.
Apenas um susto! Apenas a noite! Os passos ficaram para trás e enfim chegou à rua de sua casa. A névoa rodopiante na noite fria e escura já não o assustava. Parou na calçada em frente ao portão. Pegou a chave no bolso. Um vulto se mexeu na sombra da árvore ao lado.
Parecia que não estava só...


10/10/2005
05/04/2010 



Este texto foi idealizado em uma noite fria de outubro, no último ano da faculdade. Naquele ano eu fazia o percurso a pé, e as ruas que eu tomava eram velhas e cheias de histórias. Da idéia à conclusão do conto demorei cerca de um ano, e a data precisa de quando isso ocorreu me foge da memória, portanto cito a primeira data como sendo a data aproximada da idealização do conto e a segunda como a data de postagem e revisão do conto para publicar no blog. Espero que apreciem a leitura tanto quanto apreciei criar a história.

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