segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Onde está o escritor?

Sim amiguinhos, estou sumido! Lamento por isso, mas esta vida de gente grande está consumindo meu lado poético. Bom, o importante é que não me esqueci de vocês. Espero poder publicar material novo neste fim de ano, afinal, estarei de férias. WOOOOOOHOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!
Então, até breve. Um abraço a todos e obrigado pelo carinho!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Eu te amo!

Eu te amo!
E isso deveria bastar, não acredita?
Bom, eu tenho aqui a prova deste amor. Aqui está, pode pegar. Meu coração é seu!
O que fazer com ele? É simples, veja só, ele pulsa mais forte quando está perto de você, seu carinho o aquece, seu sorriso o alimenta, seu amor o torna mais forte!
Vê? Eu disse que te amo, e meu coração não se engana, ele pulsa por você.
Ainda tem dúvidas?
Eu te amo!

Para Roberta, com todo meu amor

domingo, 27 de junho de 2010


É isso aí, semanas cada vez mais agitadas, e meu blog cada vez mais parado. De novo! Não que eu queira claro, mas tem época que simplesmente não dá certo. Pessoal, estou procurando encontrar um tempo para escrever, sejam pacientes. Abraço a todos.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Lorem Ipsum

História curta para um dia corrido...

Uma história envolvente e intrigante que envolve Monarquia, Sexo, Religião e Mistério.

Mandaram a Rainha tomar no cu. Meu Deus! Quem terá sido?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Somente A Solidão



O vento frio arrastava folhas e papéis pela rua enquanto ele esperava a Van. Na noite fria e melancólica, seus pensamentos e sentimentos passavam como um turbilhão de emoções incontroláveis prestes a estourar seu peito numa tentativa de aliviar sua dor.
Não sabia por que estava assim, mas sabia que isso machucava e a emoção era tamanha que se esforçava para não chorar. Essa melancolia surgiu de repente, junto com o cair da noite. Não queria admitir, tampouco pretendia se abrir com alguém, mas sentia-se só, vazio.
Indiferente às pessoas e veículos que passavam por ele, prosseguia em sua espera, solitário, pensativo, triste. Olhou para o céu esperando encontrar uma resposta, mas este se apresentou escuro, sem uma estrela sequer para iluminar seus pensamentos. Até mesmo a lua o abandonava na noite. Lembranças do passado surgiram em sua mente, mas, quanto mais belas e alegres eram as imagens dessas lembranças, mais a dor oprimia seu peito.
Os pensamentos foram interrompidos pela chegada da Van. Entrou sem o ânimo habitual e nem falou direito com os outros. Durante o percurso manteve-se calado, alheio ao que ocorria ao seu redor. Em sua melancolia, até mesmo a noite parecia embaçada, parada, arrastando-se eternamente num dia que não teria fim. Vazia, a faculdade não ajudava a melhorar seu sofrimento.
Tudo estava sem graça, sem cor e, embora achasse dias assim interessantes, não gostava nem um pouco do sentimento que o tomava no momento. Algo muito mais denso, mais profundo, que lhe amedrontava, estava acontecendo sem que ele pudesse evitar. Essa impossibilidade de manter o controle da situação, de não poder prever o que estava acontecendo e o que viria em seguida lhe tirava o sono. Era esse detalhe que o apavorava.
Sob as luzes da sala e o murmúrio constante de alunos e professores, ele criou um pouco de ânimo enquanto as horas se arrastavam até o final das aulas. Ainda dentro da faculdade, olhou mais uma vez procurando nos céus uma resposta para seu sofrimento. A lua cheia fitava-o, banhando sua face com uma luz pálida e mórbida. Era linda, mas, ao mesmo tempo, sugava suas forças e o deixava mais apático.
Na saída, andou lentamente em direção à escadaria, onde aguardou pacientemente a chegada de sua Van sem ao menos reparar nas horas. Não viu mais o tempo passar, nem mesmo soube dizer como chegou em casa, mas sabe que, ao menos naquele dia, o trajeto foi diferente, levando-o por ruas que não estava mais habituado a passar. Em casa, já sonolento, tentou ler um pouco até que o sono viesse de fato e o levasse para o mundo onírico, o mundo que o atraia, o mundo que ele amava e odiava.
E o dia chegou ao fim.
Julho de 2004                      


Por Rafael Franzin




Imagem: http://poucaseboasari.blogspot.com/2009/04/solidao.html



terça-feira, 20 de abril de 2010

A Tempestade (parte 2)

Aquela tarde, há 15 anos, estava quente e ensolarada. Os jovens se distraiam, conversando no bar do clube ou aproveitando a piscina. Eu estava entre eles, mas em certo momento passei a não me sentir bem, apesar de toda euforia que me rodeava. Algo me oprimia e não parava de pensar em meus pais, que viajaram até uma das fazendas de meu avô. Aos poucos esta agonia foi se transformando em medo e já não queria estar lá.
Meus amigos tentaram me tranqüilizar dizendo que era apenas preocupação por meus pais estarem viajando, e por um tempo tentei esquecer estes sentimentos. Uma brisa suave passou com um cheiro de chuva, apesar do céu limpo. Estávamos nos preparando para almoçar.
De repente, nuvens negras surgiram escurecendo a bela tarde indicando uma terrível tormenta. Dizem que este foi o pior temporal já visto naquelas redondezas. Pelo que posso lembrar, foi uma tempestade muito forte, mas não tão assustadora como dizem por aí, pelo menos não de onde estávamos. Aconteceram muitas coisas no decorrer daquela tarde até o raiar do sol, no dia seguinte, quando a tempestade cessou. Quando a polícia chegou encontrou apenas dois sobreviventes, eu e mais uma garota, mas não pudemos dizer nada, estávamos espantados demais. Pelo menos eu estava, pois o estado dela era lamentável. Estava em choque, jamais soubemos o que ela viu. E a polícia nunca descobriu o que aconteceu.
Quando chegaram, as nuvens bloquearam a luz e a tempestade desabou furiosa, castigando tanto a terra que ficou difícil enxergar muito longe ou procurar abrigo melhor. A força do vento era tamanha que não conseguíamos ver nada além de vultos ou ouvir gritos abafados e distantes. As gotas pesadas batiam em nossa pele desprotegida.
Naquele escuro, pudemos apenas andar com dificuldade, tateando até o melhor abrigo que pudemos encontrar. Cerca de dez minutos depois ouvimos um estrondo maior do que os trovões que até então ribombavam acima de nós. Pouco depois, entre um trovão e outro, imaginei ouvir ganidos e latidos, mas por um curto período. Era impossível entender qualquer coisa naquela algaravia rodeada pelo estrondear de trovões.
Em algum momento após quase todos estarem protegidos e não muito distante dos sons que julguei serem ganidos ou latidos, gritos de pânico foram ouvidos e depois do primeiro, vieram muitos outros. Àquela hora, tudo ficou confuso. Ninguém entendia o ocorrido e não sabia o que fazer, o pavor tomou conta de cada um presente naquele clube.
Começou uma correria, mas não tive tempo de perceber mais nada. Tudo ficou escuro. O dia seguinte surgiu claro e com o céu limpo, mas em toda a dependência do clube havia corpos mutilados e o chão estava tingido com sangue. Como disse, apenas uma moça e eu fomos encontrados vivos. Ela estava em estado de choque e muito ferida, foi levada às pressas para o hospital. Eu, que levei uma pancada violenta na cabeça, já estava bem, apesar de aturdido, e passei o resto do dia na delegacia relatando o acontecido.
Os policiais queriam respostas, queriam culpados, queriam mostrar serviço. Maldita cidade vulgar! Não descansaram em sua arrogância enquanto exigiam respostas que eu não tinha. A noite caiu e avançou. Os investigadores, embora insatisfeitos e a contragosto, me liberaram. Não sem antes me aborrecerem com acusações e ameaças. Assim que cheguei em casa tratei de ir para a cama, pois meu corpo não agüentava mais de tanta dor e cansaço. Tive um sono agitado e cheio de sonhos.

Por Rafael Franzin


(continua...)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Tempestade


I. Prelúdio

Meu nome é Ivan. Ivan Lacerda. Sou o último descendente de minha linhagem. Atualmente minha vida se restringe a cuidar dos negócios do que restou das propriedades de minha família - uma fazenda no interior, localizada na região onde nasci.  Nunca fui casado. De minha última namorada já não consigo lembrar sequer nome ou rosto. Não gosto de sair de minha propriedade, e quando o faço, faço com muita relutância e preocupação.
Preocupação? Não, acho que a palavra mais adequada seria medo! Não sou, ou melhor, não era uma pessoa pessimista. Na verdade, sempre fui um garoto bem humorado, sociável e tranqüilo até meus dezenove anos, creio eu. Mas tudo mudou após aquele dia em que o céu escureceu e horrores caminharam na terra. De certa forma, é assim que consigo ver as coisas, apesar de não me lembrar do que ocorreu. Só posso falar sobre aquilo que vi depois de acordar rodeado de mortos e destroços de mobília. Minha vida nunca mais foi a mesma.
Penso que a vida seja algo além de nossa compreensão, e sempre será. Não importa o quanto procuremos o seu sentido. Ela é cheia de truques e artimanhas para nos lapidar. Em um dia você tem a fortuna ao seu favor, é feliz, possui amigos, mas basta um capricho do destino e tudo se transforma. Isso acontece com todos nós, em maior ou menor grau. Aconteceu comigo há quinze anos e até hoje não tenho respostas.
 Todos aqueles que um dia amei estão mortos, muito do que eu possuía precisou ser vendido. Tornei-me um pária perante a sociedade que estremecia ao ouvir meu nome, como um presságio de mau agouro. Estou aceitando melhor o que aconteceu em minha vida, mas isso não foi fácil e ainda espero poder, um dia, esquecer o passado.
Escrevo esta carta justamente hoje, no aniversário de 15 anos do ocorrido. Esta data está marcada para sempre em minha memória e na memória de todos os moradores que se atreveram a permanecer na cidade após aquele dia, pois marca a morte não só da minha família, mas de todos, ou quase todos, aqueles que estavam dentro do clube.
Não posso dizer o que aconteceu. Creio que ninguém possa! Mas tentarei escrever, com base em minhas memórias, tudo o que possa lembrar a respeito daqueles tempos. Eis a história:

07/2003

Por Rafael Franzin
Este fragmento faz parte de uma história iniciada em 2003, e reescrita com base em rascunhos e memórias. O original se perdeu quando meu H.D. travou. Recriei alguns trechos, mas nunca concluí o trabalho, em parte pelo desânimo com a perda, em parte pela falta de tempo. Por fim, após um longo período de silêncio, resolvi abrir o arquivo e trabalhar novamente a história. Se vou continuar, cabe a vocês, leitores, decidirem. Eu realmente apreciaria comentários, críticas e sugestões sobre os meus trabalhos.

(Continua...)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Olá amiguinhos!

Salve, salve fiéis leitores, como estão?
Eu queria deixar um recadinho a vocês. Tem gente que ainda está confundindo as coisas. Eu não escrevo um diário aqui, escrevo textos! Pode parecer com um diário devido ao conteúdo, mas não estou escrevendo sobre minha vida. O que estou criando não deve ser confundido com vida pessoal.
Estou trabalhando algumas idéias em que o personagem se expressa desta forma. Ainda está cedo para dar mais detalhes sobre este projeto, mas podem ter certeza que chegarão a ler ao menos um conto com a essência dessa idéia.
Abraços!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sentimentos traiçoeiros


Quando leu a mensagem sentiu um vazio no estômago e o corpo gelar. Até o momento a alegria o contagiava e estava feliz por estar ao lado de alguém tão especial, mas aquelas palavras singelas, lidas nos recados de sua amada, tão simples e despretensiosas, golpearam como um punhal. E tal como uma traição, seu coração sangrou e a ferida se abriu mais e mais enquanto tentava juntar o que restava de seu orgulho e procurava se acalmar e pensar racionalmente.
“Maldita terra de Chacais!”, pensou ele. E então Amor e Ódio se misturaram e consumiram-no pelo resto do dia. “Como pode dizer me amar se troca confidências com outros?”, pensava ele. “E como aquele ordinário pôde dizer ser meu amigo por tanto tempo se cobiça minha namorada?”, insistia.
Já não falava com o antigo amigo há muito tempo, justamente por causa da namorada, que se sentia incomodada com os assédios insistentes. E então, justamente agora, aquele bastardo retornava à sua vida de forma ordinária e traiçoeira - fazendo amizade com ela! Mas isso já não importava, estava possesso de raiva pela insistência dele em se aproximar dela. E magoado por ela saber que isso o incomodava e ainda assim insistir em dizer que não havia nada de estranho naquela situação.
“Amigos demais para quem antes nem dirigia o olhar, isso não está certo!”, disse a si mesmo. E passou o resto do dia digerindo o rancor que sentia por tudo aquilo.

12/04/2010

Por Rafael Franzin


Imagem retidara de: http://img46.imageshack.us/img46/1574/blackangel14byelfcetk3.jpg

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A morte do Sr. Ninguém

— Olá!
— Olá!?!... Mas... Quem é você?
— Ah!, desculpe-me, esquecei das apresentações. Sou o Crime! E, se não me engano, o senhor é o Sr. Ninguém, correto?
— Correto, sou o Sr. Ninguém! Mas seu nome é Crime? Que nome estranho!
— Sim, Crime, e não é um nome estranho. É um nome tão comum nos dias de hoje como o seu, Sr. Ninguém!
— Humm... está bem... E em que posso ajudá-lo, Sr. Crime?
— Eu vim especificamente tratar de negócios. Negócios com o senhor!
— Puxa! Sério? Não me lembro de ter negócios pendentes com o senhor, Sr. Crime.
— Ah!, mas tem. Todos têm negócios comigo! Embora não pareça, e certamente o senhor nem imagine o motivo, eu tenho assuntos a tratar com o senhor.
— Muito bem, se o senhor diz que tem negócios a tratar comigo, vejamos então quais são eles!
— Ótimo, vamos a eles. Passe seu dinheiro, documentos, relógio e corrente imediatamente!
— Ei, mas que história é essa?
— Como assim, que história é essa? São os negócios pendentes, oras! Vamos, vamos! Não tenho tempo a perder, isso é um assalto e tenho outros clientes para visitar.
— Assalto!?!? Pensei que você tivesse negócios a tratar comigo, e isso não é negócio a ser tratado!
— Claro que é, Sr. Ninguém. Este é meu trabalho e posso garantir que estou dentro da Lei, aliás, só trabalho dentro da Lei, já que é um trabalho perigoso, por vezes violento e sem garantia de remuneração. É uma profissão de risco!
— Mas quanta bobagem! Desde quando assaltar pessoas passou a ser um trabalho honesto?
— A partir do momento que a Miséria e a Fome me obrigaram! Desculpe-me, Sr. Ninguém, mas é assim que funciona. Eu preciso ter o meu lucro para poder sobreviver, portanto dependo de clientes como o senhor e, de preferência, que colaborem comigo. Mas vamos deixar de papo furado e passe logo esta carteira cheia, vamos!
— Ora, seu atrevido, tire suas mãos da minha corrente! E devolva minha carteira, safado!

Sons de briga, um disparo, um grito, um homem correndo, um corpo ao chão...

— Mas que pilantra, roubou minha carteira e quase consegue levar meu relógio e...
— Oi!
— Oi... Ei, quem é você?
— Eu sou a Morte!
— Cruzes! Deixe de brincadeira, não tenho tempo para isso, preciso chamar a polícia, acabaram de roubar minha carteira, sabe?
— Sei, é por isso que vim. Foi rápida, não foi?
— O que, o assalto?
— Não, sua morte!
— Ah, claro, minha morte... O QUÊ? MINHA MORTE?!?!
— Sim, você morreu!
— QUANDO?
— Quando reagiu. Enfim, chegou sua hora. Bem que a Sra. Fatalidade me avisou... Ela disse que essa esquina precisaria de meus serviços a qualquer momento, por isso fiquei conversando um pouquinho ali na praça, junto com a Fome, a Miséria e a Violência. Ó, elas são umas gracinhas... Você não acha?
— Não, não acho! Além disso, eu não posso estar morto, não posso morrer, tenho muitas coisas a fazer... sabe, eu... eu... eu tenho família, trabalho, contas a pagar, tenho...
— Não se aflija, Sr. Ninguém, essas coisas podem acontecer com qualquer um.
— NÃÃããoooo.... Eu não quero morrer, quero continuar minha vidinha pacata!
— Calma... calma... Dê sua mão... Isso... Assim... Venha, vamos embora, seu tempo acabou!
— Mas por que eu Dona Morte? Por que a senhora não foi buscar um político, um ricasso ou um outro famoso qualquer?
— Exatamente por você ser quem é!
— E quem eu sou?
— Ninguém, ora! Hoje as coisas são assim, muito rápidas. É por isso eu não tenho tempo de escolher, além disso, há muita concorrência e outras Mortes podem surgir a qualquer momento e...

Uma freada brusca, um som de batida, um corpo atirado ao chão.

— Ah não! Olhe lá! Puxa, que azar...
— O que foi, Dona Morte?
— Ali, ali na esquina, veja! O Sr. Acidente atropelou alguém. Olha aí, não te avisei? Fiquei conversando com o senhor e outra Morte foi buscá-lo. Assim não dá! Como eu vou dar continuidade ao meu trabalho? É muita concorrência e isso é desleal!
— HAhaHAhaHA!!!!
— Hei! Isso não é engraçado, dessa forma meus números caem nas estatísticas!
— Desculpe, mas não estou rindo da senhora, estou rindo da situação, é irônica!
— Qual situação? Que ironia?
— O acidente! Aconteceu com o mesmo Crime que me assaltou!
— Puxa, não é que você tem razão? Que coincidência, não? Realmente, há um toque de ironia na situação.
— É mesmo... A vida é cheia de surpresas... Quando a gente menos espera, vem a Morte e nos leva...
— Corretíssimo! Sou pontual em meu serviço. Quando a hora chega, estou pronta para levar seja quem for. Está pronto? Vamos embora?
— Sim, estou. Vamos!

Assim que a Morte levou o Sr. Ninguém, alguém na multidão que se formava em torno do acidente lamentava diante do corpo maltrapilho e estirado:

— Coitado, o sujeito estava correndo tanto... Devia estar atrasado para o trabalho!

Do outro lado, enquanto a polícia recolhia o corpo do Sr. Ninguém, alguém comentou:

— Ah, isso foi acerto de contas. Certeza! Olha a cara desse Zé Ninguém. Ele não me engana, mesmo com essa roupinha bacana. Ta na cara que não passava de um safado!

Por Rafael Franzin

terça-feira, 6 de abril de 2010

Trilha do medo


            O gosto por esportes radicais sempre acompanhou Rodrigo. Fazer trilhas era estimulante para sua imaginação e uma forma de catarse para amenizar o cansaço dos estudos e do trabalho. Rodrigo, com seu amigo André, tinha o hábito de rumar para regiões ermas do município. Faziam isso com freqüência, cartografando os lugares visitados para futuras referências.
            Em uma dessas aventuras, um incidente marcou a sua vida. Um acontecimento singular, cuja sombra maligna do maldito dia o persegue até hoje.
            Era um dia de sol escaldante e os dois amigos já haviam percorrido mais de trinta quilômetros em busca de mais uma cachoeira e paisagens exuberantes. Com os recursos de água escassos, a idéia de localizar uma fonte fresca era animadora, porém, seguindo todos os indícios da localização de uma possível fonte, os surpresos companheiros depararam-se com um paredão de rocha de um morro que, segundo seus conhecimentos, não deveria estar lá. Tendo em vista que estavam muito longe da cidade, exaustos e sedentos, sem mencionar a luz do dia que gradualmente tornava-se turva enquanto o entardecer aproximava-se, resolveram tomar um atalho calculado às pressas. O destino, porém, havia reservado para os dois ciclistas uma experiência assustadora. Um erro de André ao consultar a bússola os conduziu por uma estrada remota ao redor dos morros, matas e bosques. Com o avançar da tarde e a vontade crescente de regressar o quanto antes, ambos prosseguiram por uma trilha desolada no coração do bosque até encontrarem um indício de civilização. Não pensaram de outra forma, o telhado de uma pequena casa estava lá, indicando um lugar para pedirem água e descansarem um pouco.
            Os dois se olharam e riram, entretanto, quase que simultaneamente, os dois se deram conta de que não havia ruído algum nas proximidades, o mato dominava tudo e mesmo a trilha estava tomada de vegetação. Nenhum pássaro cantava, não se viam pequenos animais. Absolutamente nada se movia, a única exceção eram os insetos.
            André olhou para o céu onde surgiam nuvens cor de chumbo. Não ventava, o ar encontrava-se saturado pelo mormaço, era opressivo, asfixiante. Um cheiro forte de coisa velha e bolor impregnava o lugar e o zumbido das moscas apenas tornava a sensação mais repugnante.
Andaram alguns metros e encontraram um portão velho, cujas características de seus adornos indicavam um período colonial ou anterior. Uma das folhas do portão estava escancarada e pendida, o gonzo superior estava partido e corroído pelo tempo. A outra folha continuava em repouso, fechada. Atravessaram o arco do portão.
Observaram ao redor e então, finalmente, perceberam que não haviam entrado em uma casa, mas em uma cidadela. Era difícil ver claramente as construções, o mato havia tomado todas as ruelas e jardins. Os telhados estavam cobertos de limo e trepadeiras, assim como as grades das casas, mas, sem dúvida alguma, era uma cidade.
André sentou-se em um canto para descansar, mas Rodrigo, impetuoso, seguiu em frente atravessando a rua principal da cidadela, admirando as construções antigas. Quase no final da rua alegrou-se ao avistar um pomar, mas o entusiasmo não durou muito. O pomar estava doente, as frutas que nasciam eram pequenas, secas e amargas.
Regressando desanimado, ouviu uma conversa e imaginou que seu companheiro havia encontrado alguém. Aliviou-se em deduzir que alguém morasse nas proximidades, mas chegando ao local em que seu amigo estava sentado, encontrou apenas as bicicletas e a mochila de André. A situação tornava-se cada vez mais incômoda. Rodrigo estava cansado, com fome, sede, e agora, preocupado. Um ruído surgiu no mato, Rodrigo olhou assustado e acreditou ver um vulto. Esfregou os olhos, mas não havia nada. Estava quase certo de que tinha visto uma velha. Não muito longe, ouviu passos e o farfalhar de folhas. Resolveu seguir o som. Não havia nada que pudesse fazer no momento. Queria sair daquele lugar o mais rápido possível, sem olhar para trás, mas agora não poderia partir sem seu amigo. O sol morria no horizonte e, vendo-o se pôr, Rodrigo sentiu que o sol levava consigo a esperança de encontrar seu amigo e a saída da cidadela morta. Mal sabia ele que esse pensamento o atormentaria pelo resto de sua vida.
Dando as costas ao sol poente e seguindo por uma estrada lateral, Rodrigo avistou outras construções, todas deterioradas, mas com suas estruturas rústicas ainda em pé. O mato era mais volumoso neste lado da cidade e havia a necessidade de abrir caminho devagar, esmagando moitas cujas alturas superavam dois metros de altura.
O ranger de uma dobradiça fez Rodrigo olhar para a janela de uma das casas. Diferente das outras, ela apresentava escadas para chegar à sua porta de entrada, o que indicava a existência de um porão ou similar abaixo de seu assoalho. Sua estrutura era diferente das outras, mas o mato não permitia uma visão clara do que a distinguia em especial, apenas uma vaga idéia de que o antigo dono fosse um homem rico, baseando-se nos contornos e demais adornos da construção.
André estava desaparecido e a noite começava a cair, portanto Rodrigo continuou em frente chegando ao fim da rua. Ouviu o balançar de correntes e um estalo vindo de onde, naquele momento, julgou ser um galpão – só podia ser André. Não pensou duas vezes e correu até a decrépita construção para encontrar seu amigo. O galpão era um lugar escuro. Janelas diminutas com barras de ferro chumbadas iluminavam e ventilavam precariamente a única sala. O chão não tinha piso ou pavimento, sendo constituído de terra batida. Das paredes pendiam grilhões, entretanto, apesar de não estar ventando, alguns balançavam.
Algo era incômodo, a sensação de estar sendo observado deixava Rodrigo apreensivo. Como um sussurro, um lamento chegou aos seus ouvidos, um frio espectral o envolveu e alguma coisa roçou seu pescoço. Um novo som de estalo ecoou e, desta vez, muito próximo, bem à sua frente. Neste momento, sua coragem temerosa vacilou e correu o mais rápido possível para longe do lugar que, a princípio, julgou ser um galpão. Os grilhões, janelas pequenas e com grades, terra batida, os estalos, enfim, aquilo que viu e ouviu passou em sua mente e tornou-se clara a função daquele lugar no passado. Existiram escravos ali. Só não podia compreender, ou sua razão não queria acreditar, nos fenômenos que presenciava.
Correndo sem olhar para trás através do matagal, Rodrigo não pensava em outra coisa a não ser em sair daquele lugar, no entanto a dificuldade em percorrer um caminho fechado e o cansaço que se apoderava de seu corpo o fez parar em frente à escada da casa de traços peculiares. Sem saber o porquê, subiu seus degraus, atravessou a varanda e entrou pela porta que, acreditava ele, levava à sala principal. A alça de sua mochila partiu-se e precisou passá-la para a mão. Olhou a sala destruída pelo tempo, o assoalho não existia mais, as vigas eram a única forma de transitar e embaixo, no espaço que existia abaixo de seus pés. As trevas dominavam o que possivelmente seria o porão. Atravessando com cuidado, chegou a um corredor de piso firme em que havia uma escada que conduzia ao sótão e uma porta de acesso ao próximo salão.
— Até que enfim encontrei você, Rodrigo! Disse André surgindo diante do amigo.
Com o susto, Rodrigo caiu para trás, derrubando a mochila que continuou escorregando até o piso sem assoalho. A bolsa caiu fazendo um baque seco no fundo do porão. Houve outro barulho, mais ao fundo e um barulho de tábua rangendo e então uma revoada de morcegos saiu da escuridão sobrevoando toda a sala até sair pelas passagens abertas pelo tempo.
— Caramba, André, precisava me assustar assim? Estou procurando você feito um louco! Onde estava?
Rodrigo estava irritado, acabava de levar o segundo susto no lugar mais agourento que já havia visto, sem dizer que estavam ambos perdidos, no escuro e, neste momento, acabava de perder sua mochila.
— Eu é que pergunto.! Você me chamou enquanto eu descansava, fiquei procurando você até agora. Foi uma brincadeira sem graça! Sabia que estamos perdidos e está escurecendo? Precisamos sair daqui...
André se calou quando percebeu que a fisionomia de seu amigo empalidecia, mas não entendeu o motivo. Alguns segundos depois, quase que em um sussurro, Rodrigo conseguiu dizer:
— Mas eu não chamei. Encontrei um pomar e voltei, mas você já havia saído...
Silêncio novamente. Os dois se olhavam assustados.
Estava esfriando, um ar gélido envolveu os dois amigos que ainda se recompunham do susto. Lá fora, a luz da lua derramava-se de forma macabra sobre a cidadela. O silêncio era absoluto. De outro cômodo, uma tênue luz azulada surgia com o avançar da noite. Olharam pela porta, e então notaram que não estavam em uma casa, mas num casarão. O corredor por onde entrava a luz era extenso, escuro e ligava vários cômodos a ele. Em seu final a luz tornava-se mais forte. Tiveram a impressão de ver uma criança atravessando o corredor.
Sem dizer uma única palavra, iniciaram uma retirada a passos largos do casarão. Rodrigo ainda pensou em descer ao porão para recuperar sua bolsa, mas um som que ele acreditou ser um rosnado afastou a idéia de sua cabeça.
Fora da casa, a claridade mórbida da lua cheia iluminava satisfatoriamente o caminho até as bicicletas. Rodrigo podia jurar, e ainda hoje acredita nisso, que enquanto corriam para as bicicletas ouviu uma voz de criança pedindo para voltarem. O medo deu força para que os dois iniciassem uma marcha puxada para fora da cidadela, continuando na direção mal calculada. Duas horas se passaram até que puderam reconhecer o caminho. Neste momento já sabiam onde estavam e o ânimo voltou em seus rostos que até aquele momento estavam abatidos. Saíram da trilha e entraram em uma estrada de terra batida e cascalho, já utilizadas em suas aventuras, no entanto não ficaram nela por muito tempo e entraram em mais uma trilha conhecida, dentro do horto, que diminuiria a distância a percorrer.
André zombou da situação, estava alegre novamente e começou a fazer piadas, mas Rodrigo não riu. Não acabava assim, pensou. O que aconteceu não foi algo trivial e, seja o que for, ainda não acabou. Ele pressentia isso. Não sabia o motivo, só sabia que ainda sentia medo. Estava ao lado do companheiro quando olhou para trás e viu algo grande, de olhos vermelhos, vindo em direção a eles. Gritou para André, que olhou rapidamente para trás e disparou com sua bicicleta. A coisa movia-se muito rápido e Rodrigo ficou para trás. Mesmo pedalando com toda sua força, não conseguia ganhar velocidade maior. Podia jurar que sentia o hálito da criatura bem atrás e já perdia a esperança de continuar vivo, mas a trilha não era plana e para sua sorte o declive o ajudou.
Descer mais rápido não aliviou os seus temores, o que quer que fosse aquela coisa, ainda estava em seu encalço e mais aterrador que isso era a certeza de saber de onde vinha aquilo. A lembrança da escuridão do porão surgiu como um lampejo em sua mente. Aquela coisa vinha de lá! Foi isso que rosnou lá embaixo e que, em um momento anterior, provocou o ranger das tábuas e, neste momento, vinha atrás deles.
Rodrigo sabia que no fim desta trilha encontrariam uma estrada bastante utilizada por fazendeiros locais, mas era tarde, estava escuro e havia uma subida para vencer, portanto, tentou forçar sua marcha. Cruzou o limite do horto e entrou na estrada. Neste momento, com um caminho limpo e iluminado pela lua, viu seus dois pneus furados. Isso explicava porque não conseguia ir mais rápido. Mesmo assim não parou nem ousou olhar para trás novamente. Colocou a bicicleta nas costas e continuou correndo atrás de seu amigo, que já estava bastante adiantado.
Finalmente, no final da subida, alcançou o asfalto onde André o esperava debaixo de um poste e olhou uma última vez em direção ao horto. Não viu nada.
Foram andando em silêncio, não havia o que falar. Estavam muito assustados. Separaram-se apenas quando cada um precisou tomar o caminho de sua casa. Tudo estava normal enfim. Era uma noite de sábado e o movimento tomava conta da cidade.
Rodrigo entrou pelo portão de sua casa, passou pela garagem e guardou a bicicleta nos fundos. Ficou descalço, lavou as pernas cansadas e machucadas, entrou pela cozinha, bebeu muita água e comeu bastante. Depois de tomar um banho foi dormir, mas seu sono não foi tranqüilo.
Acordou com o corpo dolorido, ainda eram seis horas e estava frio. Olhou para fora. Tudo estava branco. Uma cerração cobria a cidade. Saiu pela sala, olhou a rua e recuou atônito encostando-se na parede. Pendurada na grade do portão estava sua mochila suja de sangue fresco. Havia algo pesado dentro dela e mais sangue escorria pelo fundo. Do zíper semi-aberto, Rodrigo viu a camisa que André usou no dia anterior. Estava cobrindo algo, mas não se atreveu olhar de perto. Fios de cabelo saiam dela.
Semi-oculto pela bruma, um par de olhos vermelhos parecia afastar-se lentamente, rosnando ameaçador antes de desaparecer com o nevoeiro. 


08/05/2003

Por Rafael Franzin
Baseado em lendas urbanas e nas histórias contadas por M.R.T.

Terça-feira agitada

Salve, salve, amigos leitores. Hoje possivelmente não terei muito tempo para dedicar ao blog, portanto será um pouco difícil publicar algo, mas eu gostaria de deixar um abraço a todos os meus fãs, e um grande beijo para minha fã número 1, a Roberta.
A todos o meu muito obrigado pelo prestígio e, em breve, novos trabalhos serão publicados para o deleite de todos.
até lá!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Perseguido!

Parecia que não estava só. Era tarde, quase uma hora da manhã. Nuvens cobriam a lua e um vento gélido soprava constantemente, trazendo consigo um nevoeiro tênue. Era inverno. Respirando fundo, lembrou-se da caminhada que tinha pela frente. Não se sentia seguro ali, não gostava do bairro em que estava. Possuía uma péssima fama e, embora este não fosse o principal motivo, queria sair de lá.
Iniciou a descida pela avenida na noite silenciosa. Andou cerca de 20 metros e ouviu passos. Olhou para traz, não viu ninguém. Continuou em frente descendo a avenida e os passos continuaram ecoando naquele caminho deserto. A neblina rodopiava com o vento em uma dança macabra na noite fria.
Chegando ao fim da avenida olhou curioso para trás e de relance viu a silhueta indistinta de alguém. Não deu importância. Continuou andando, mas ao tomar o caminho de outra rua olhou curioso novamente para trás.
Vazio.
Imaginou ouvir passos. Apesar da iluminação, a noite dominava calada e gélida. Seguiu atento em seu novo caminho. Ouvidos e olhos aguçados. Naquele frio de gelar os ossos, sentia apenas o coração pulsando. Passos.
Apreensão.
Virou-se para o nada. Rua deserta, fria, escura. E a dança macabra da neblina sob o luar continuava. Seguiu até o fim do bairro, e lá diminuiu os passos para decidir qual caminho tomar. O primeiro o levaria até o centro da cidade, por um caminho um pouco mais longo, mas as construções abandonadas e as duas quadras escuras o intimidaram. E os passos?
Silêncio.
Olhou para frente, o segundo caminho era menos convidativo que o primeiro, atravessando um pasto isolado, mal iluminado e deserto. Mas era mais curto, e ele conseguia enxergar a rua bem iluminada no final deste caminho. Seguiu em frente. Olhava para os lados do caminho, via as sombras dançando ao som do vento nas copas das árvores. Olhos de várias corujas o seguiam. A lâmpada de um poste se apagou.
Virou-se. Uma silhueta indistinta cruzava a rua rumando para o centro da cidade. Aliviado, seguiu seu caminho até chegar à rua da antiga estação de trem. Antiga e abandonada, parecia assombrada sob o luar da noite lúgubre. Nos arredores escuros da estação, seguindo o caminho dos velhos trilhos entre a névoa e o farfalhar de folhas, continuou sua caminhada solitária.
A queda de algo pesado próximo aos vagões o assustou. De cantos escuros, sombras saltaram e passaram de um lado a outro em silêncio.
Tensão.
Apenas um susto! Apenas a noite! Os passos ficaram para trás e enfim chegou à rua de sua casa. A névoa rodopiante na noite fria e escura já não o assustava. Parou na calçada em frente ao portão. Pegou a chave no bolso. Um vulto se mexeu na sombra da árvore ao lado.
Parecia que não estava só...


10/10/2005
05/04/2010 



Este texto foi idealizado em uma noite fria de outubro, no último ano da faculdade. Naquele ano eu fazia o percurso a pé, e as ruas que eu tomava eram velhas e cheias de histórias. Da idéia à conclusão do conto demorei cerca de um ano, e a data precisa de quando isso ocorreu me foge da memória, portanto cito a primeira data como sendo a data aproximada da idealização do conto e a segunda como a data de postagem e revisão do conto para publicar no blog. Espero que apreciem a leitura tanto quanto apreciei criar a história.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Diálogo com a Sombra

—O que o preocupa, meu senhor?

—Suspeito que a Solidão, ou, talvez, a Escuridão.

—Não tenha medo, “Solidão é aprendizagem!”, assim diz o Poeta.

—Mas e a Escuridão, minha tenebrosa e inseparável Companheira, o que é ela?

—Ora, a Escuridão é o Reino. Aceite a verdade, Senhor, não há luz sem sombra!

—Não creio! É pior, Solidão é meu tormento, Escuridão é teu alento!

—Talvez, meu Senhor, talvez. Mas, ainda assim, é teu fardo. É tua sina. É o que
está escrito no firmamento. Não pode fugir de teu destino.

—Tem razão, enfim. Somos parte um do outro, devo também aceitar o exílio de tal Tormento, quando a Dama chamar-me com voz tão terna.

—Relaxe, meu senhor, ainda não chegou a hora. O Tempo é o melhor mestre. Ele dará a resposta que procura.

—E quanto custará a espera por tal resposta, minha intempestiva amiga?

—Sabe o valor, terá que pagar por seu partido amor. Cobiçada é tua alma sofrida. Ela será o pagamento do Ceifador.

— Feliz é você, Sombra, que não tem alma, não sangra, não sofre.

—Pode estar certo, meu senhor, mas em termos, pois eis que também não tenho vontade própria, sou um mero reflexo distorcido da tua alma, do teu sofrimento. Se fosse diferente não estaria aqui conversando comigo numa noite invernal, enquanto a vida pulsa no mundo lá fora.

—Que mundo pulsante é esse, minha negra confidente? Fala deste mesmo mundo que ceifa minha vontade com mentiras, que dilacera minha alma com o martírio da solidão?

—E você, meu senhor, nunca fez o mesmo com outrem? É agora um santo? É também humano! Comete teus erros, sabe muito bem disso. Não negue que parte deste sofrimento é fruto de tuas falhas.

—Não nega tua origem, Maldita. É mesmo filha do Noite, e tão indolente quanto o Tempo!

—Indolente? Eu? Ainda insiste em cometer o mesmo erro, Senhor. Sou teu reflexo!

—...

—Calou-se agora? Por que? Minhas palavras ferem teu coração? Creio que não, Senhor, é o único responsável por tuas chagas. Fere-te a ti mesmo. Tua consciência é teu pior pesadelo. Fique sozinho, fique no escuro. A Escuridão será tua companheira, a Solidão tua guia...

02/11/2005

Por Rafael Franzin

Este texto é mais um dos antigos que localizei enquanto fazia faxina no laptop. Eu havia esquecido de citar a data e o nome, mas agora o problema foi corrigido.
Respondento a uma questão.... Sim, os textos são meus! Quando não são, eu cito o autor ou, se o texto for baseado na obra de alguém, eu faço a citação também.

quarta-feira, 31 de março de 2010

A Mão do Ceifador


No tormento de uma noite escura, vejo a sombra austera da morte caminhando solitária por ruas vazias.

De olhar penetrante, ela avança resoluta na direção de sua presa indefesa e alheia ao fato de ser a escolhida.

Por onde passa, a Sombra gela o sangue de homens e satura o ar com seu aroma fúnebre, reivindicando o que lhe pertence.- a vida.

Cada vez mais próximo, o Aniquilador prepara-se para a consumação de seu toque letal, elevando acima da cabeça a foice brilhante e afiada, invisível aos olhos mortais, e cada vez mais, as pessoas sentem-se ameaçadas com sua presença impiedosa.

O homem velho e doente aproxima-se de sua sina tossindo e não percebe o que o espera, nem poderia, ele apenas segue em direção ao cais da mesma forma que faz todos os dias.
O velho tropeça e cai. No chão, vê em sua frente um Senhor envolto em capuz negro estendendo-lhe a mão. Fica feliz com a gentileza do estranho, mas ignora sua natureza ancestral.

 Não receia o Anjo da Morte, já viu muitas coisas em sua vida e sabe que o tempo não lhe pertence mais, porém, ainda não pode prever o que acontecerá em seguida.

Sem medo, o velho entrega-lhe agradecido a mão e da mesma forma renuncia a própria vida.

Por um momento o tempo torna-se inerte - o silêncio da morte corre aos quatro ventos e se afoga na noite perpétua. O Terror Noturno olha com compaixão para o velho.

Está feito. Enfim, o velho aceitou ser guiado pela mão do Ceifador!
 
26/03/03

Por Rafael Franzin


Este texto é bem antigo, e nem me lembrava mais dele. Hoje, fazendo uma faxina no laptop encontrei uma pasta com todo o material daquela época. Espero que gostem!

terça-feira, 30 de março de 2010

Homem empurra suicida por achar que ele só queria chamar atenção

Essa postagem eu tinha que fazer. Sou fã desse cara! A matéria é antiga, se não me engano do ano passado.

Tirei daqui: http://www.malametal.com/2009/05/vai-se-suicidar-na-casa-do-caralho.html

Uma cena inusitada ocorreu neste sábado na cidade chinesa de Guangzhou. Um suicida havia subido em uma ponte, enquanto ameaçava jogar-se,quando foi abordado por um expectador.
Lian Jiansheng, um soldado da reserva, passou por um cordão de isolamento policial que dava acesso ao suicida, Chen Fucchao e acabou empurrando-o da ponte. A queda de oito metros foi amortecida por um enorme colchão de ar que estava quase cheio.
Ao ser questionado sobre a inusitada atitude, Chen declarou ao jornal Daily China: “Empurrei porque suicidas, como Chen, são muito egoístas. Suas atitudes violam muitos dos interesses públicos. Eles não querem suicidar-se, só querem chamar a atenção das autoridades importantes do governo”.





O suicida foi levado ao hospital onde foi hospitalizado com algumas lesões no pulso e nas costas. Ele estava devendo 2 milhões de yuans, motivado por um fracasso imobiliário.

Aos meus leitores

Queria mandar um abraço para o pessoal de Porto Ferreira, pois fiquei sabendo que andam lendo em peso meu blog. A resposta é sim, tenho influências góticas! Também sou depressivo, introspectivo, aprecio cemitérios, arquitetura gótica e outras coisas desse tipo. Adoro literatura fantástica, meus escritores favoritos são Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft e tenho muito som de bandas conhecidas, desconhecidas e das que ainda não existem (oO) rsrsrs.
A outra resposta é não! Eu não escrevo sobre o que está acontecendo comigo no momento, como disse em outro post. Não estou revoltado com nada, mas como diz Poe, em a Filosofia da Composição, não se pode dizer que o escritor cria algo com base da “inspiração”, pois isso não existe, o que existe consistem na utilização de ritmo, palavras e outros símbolos textuais para criar a obra e causar o efeito no leitor. É isso – causa e efeito.
Se gostam do que estão lendo, por favor, comentem! Vocês não fazem idéia de como é tedioso escrever sem saber que está sendo lido e, mais que isso, apreciado (ou execrado).
Um abraço!


domingo, 28 de março de 2010

Ácido!

Sei bem eu as dores e delícias de ser o que sou, não precisam apontar meus defeitos, tenho espelho em casa. Não quero falsas amizades, a sociedade já é hipócrita o suficiente para isso.

Não escrevo para agradar um público, escrevo como catarse. Escrevo porque gosto. Não quero ser gramaticalmente correto, não quero ser métrico, rítmico, quero ser eu mesmo. Cansei do padrão, cansei de tudo. E não me interessa o que irão dizer ou pensar, só quero uma oportunidade de me exteriorizar.

E não, o que está escrito não é a minha vida, é uma releitura de como vejo algumas cenas. Já dizia Poe e todos os formalistas russos – "obra e autor são duas coisas totalmente diferentes".

Não sabe quem foi Poe ou os formalistas russos? Então vá estudar!

Como diz um grande amigo: “Minhas amizades são obtidas da seguinte forma: Aqueles que conhecem Baudelaire e aqueles que não conhecem.”

Então eu pergunto: Você conhece Poe e a Filosofia da Composição? Não? Então o que está fazendo perdido neste blog?

Ninguém o viu chorar

Seu olhar passava pelo salão cheio de vultos à procura de um rosto conhecido. Todos estranhos. Estava ansioso, mas não havia motivos para isso, procurava algo, procurava alguém, procurava ninguém, apenas fitava cada rosto na penumbra. Tudo era novidade.
Entre conversas e risadas, ouvia a noite na pele de um estranho, alguém calado e solitário em um balcão rodeado de sorrisos e copos. Ignoravam-no! E ali permanecia na pele de uma rocha, com a alma de um poeta, taciturno, acompanhando como um mero espectador a vida noturna.
Lá fora uma leve chuva caia, refrescando a noite e agrupando os transeuntes que não queriam se molhar. A cada minuto mais pessoas entravam, e mais copos passavam pelo balcão onde estava. No entanto, continuava invisível.
E neste momento, pensativo, olhando para fora, a viu de relance passando alegre e sorrindo, acompanhada. Foi então que aquela rocha fria, encostada no balcão, mudou a feição no rosto e se entristeceu. Se fosse possível ser visto, se alguém quisesse ou fosse capaz de enxergá-lo, poderia jurar que uma lágrima amargurada caiu de seus olhos.

28/03/2010

Por Rafael Franzin

sábado, 27 de março de 2010

Despedida


 Das palavras que escrevo aqui guardarei em memória um dos períodos mais felizes da minha vida, apesar do fim. Muitos comemoraram e comemorarão ainda por muito tempo o desfecho, mas eu sorrirei e dormirei tranquilo, tendo a certeza do amor que dei e, principalmente, recebi.

Do futuro que jamais saberei,
Ficou o sabor do beijo que dei.
Destas lágrimas que vejo agora,
Lembro apenas do sorriso de outrora.
Ai de mim, por decidir, em momento de aflição
A dor que causo, agora, em teu coração.

Se pudesse a vida decidir voltar
E te fazer mais uma vez sonhar,
Qual seria sua escolha final,
Talvez uma vida de amor sem igual?
Dos momentos que em vida lembrarei,
Terei sempre você, que um dia amei!

E haverá quem diga que não foi inteiro
O sentimento que por você foi verdadeiro,
E também dirão, totalmente sem razão,
Que foi uma troca boba, por outra paixão.
Mas a verdade é que foi minha única amada
E dona de minha alma, agora só e cansada.

28/02/2010
Por Rafael Franzin

quinta-feira, 25 de março de 2010

Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos


Não sei, de repente deu vontade de postar estes versos. O cara era foda!

terça-feira, 23 de março de 2010

Vazio


Olhava fixamente para o relógio. Os ponteiros andavam, o tempo passava, mas a casa permanecia vazia. Calado, continuava ali, inerte, apenas acompanhando o caminho enfadonho dos ponteiros. Já era noite, a casa estava mergulhada naquele silêncio sepulcral. A penumbra também lhe fazia companhia. Não havia mais ninguém, não podia compartilhar suas lembranças, suas andanças, seus amores e temores. Amigos já não tinha, companhias não queria. Era uma casa morta, era uma alma morta, e a única certeza era a passagem do tempo, marcada a cada segundo pelos ponteiros do relógio. E ele permanecia ali, inerte, olhando para os ponteiros do relógio.

Imagem:http://gritosnoturnos.blogspot.com/2010/01/alma-perdida.html